Dupla excepcionalidade: transtorno do espectro autista e altas habilidades
Palavras-chave:
dupla excepcionalidade, transtorno do espectro autista, altas habilidades, superdotaçãoResumo
A crescente prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a complexidade de suas manifestações, incluindo a coexistência com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) na chamada dupla excepcionalidade, demandam investigações aprofundadas. Este estudo teve como objetivo compreender as inter-relações entre TEA e AH/SD por meio de uma revisão sistemática da literatura, utilizando as bases PubMed, PeriodicoCapes, ScienceDirect e Scielo, com recorte temporal dos últimos dez anos e seguindo o protocolo PRISMA. Foram analisados 66 artigos, que abordaram características, desafios diagnósticos e de identificação, incluindo a problemática do falso diagnóstico e o fenômeno do mascaramento, onde os traços de uma condição podem ocultar ou exacerbar os da outra. Os resultados corroboram a heterogeneidade fenotípica do TEA e a diversidade das AH/SD, resultando em perfis de desenvolvimento assimétrico que desafiam generalizações e a adequação de instrumentos diagnósticos tradicionais. A análise da produção científica revelou a necessidade de mais pesquisas aplicadas para validar modelos de intervenção e desenvolver ferramentas de identificação sensíveis a esta população. Conclui-se que a dupla excepcionalidade TEA/AH/SD é um campo que exige maior clareza nos critérios diagnósticos e intervenções personalizadas, baseadas nas forças individuais, para promover o pleno desenvolvimento e bem-estar desses indivíduos.
Referências
APA American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5th ed., text rev.; DSM-5-TR). American Psychiatric Publishing.2022.
APA American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: texto revisado (DSM-IV-TR). Washington: Artmed; 2002.
BAUM, S. M.; SCHADER, R. M.; OWEN, S. V. To be gifted and learning disabled: Strength-based strategies for helping twice-exceptional students with LD, ADHD, ASD, and more. 3. ed. Waco, TX: Prufrock Press, 2017.
BEAUCHAINE, T. P. Dimensional models of psychopathology are essential for improving classification, assessment, and intervention. Clinical Psychology: Science and Practice. Advance online publication. 2023.
BLUMBERG, S. J. et al. Diagnosis lost: differences between children who had and who currently have an autism spectrum disorder diagnosis. Autism: The International Journal of Research and Practice, v.20, n.7, p.783–795, 2016.
CAMELO, F. M. et al. Diagnóstico e tratamento do transtorno do espectro autista. Revista Científica Multidisciplinar, v. 3, n. 7, p. e371619-e371619, 2022.
GAGNÉ, F. My convictions about the nature of abilities, gifts, and talents. Journal for the Education of the Gifted, v. 22, n. 2, p. 109-136, 1999.
GESCHWIND, D. H.; LEVITT, P. Autism spectrum disorders: developmental disconnection syndromes. Current Opinion in Neurobiology, v. 17, n. 1, p. 103-111, fev. 2007. DOI: 10.1016/j.conb.2007.01.009.
HULL, L. et al. “Putting on My Best Normal”: Social camouflaging in adults with autism spectrum conditions. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 47, n. 8, p. 2519-2534, 2017.
KAMP BECKER, I. Autism spectrum disorder in ICD-11—a critical reflection of its possible impact on clinical practice and research. Molecular Psychiatry, v.29, p.633–638, 2024.
KENTROU, V. et al. Perceived misdiagnosis of psychiatric conditions in autistic adults. Clinical Medicine, v. 71, p. 102586, 2024.
LEBEAU, B. et al. Developmental milestones as early indicators of twice-exceptionality. Neurobiology of Learning and Memory, v. 194, p. 107671, 2022.
LORD, C.; ELSABBAGH, M.; BAIRD, G.; VORTERA, S. Autism spectrum disorder. The Lancet, v. 392, n. 10146, p. 508-520, 2018. DOI: 10.1016/S0140-6736(18)31129-2.
LOVECKY, D. V. Different minds: gifted children with AD/HD, Asperger syndrome, and other learning deficits. London: Jessica Kingsley Publishers, 2004.
MAENNER, M. J. et al. Prevalence and Characteristics of Autism Spectrum Disorder Among Children Aged 8 Years — Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, 11 Sites, United States, 2020. MMWR Surveillance Summaries, v. 72, n. 2, p. 1–14, 2023.
NEIHART, M. The impact of giftedness on psychological well-being: what does the empirical literature say? Roeper Review, v. 22, n. 1, p. 10-17, 2000.
PAGE, M. J. et al. PRISMA 2020 explanation and elaboration: updated guidance and exemplars for reporting systematic reviews. BMJ, v. 372, n. 160, mar. 2021. DOI: 10.1136/bmj.n160.
PFEIFFER, S. I. Serving the gifted: evidence-based clinical and psychoeducational practice. New York: Routledge, 2013.
RENZULLI, J. S. O que é esta coisa chamada Superdotação e como a desenvolvemos? Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. Educação, v.1, n.52, p.75 – 131, 1978.
WEBB, J. T. et al. Diagnóstico equivocado e duplo diagnóstico de crianças superdotadas e adultos: TDAH, Bipolar, TOC, Autismo, Depressão e Transtornos de Ansiedade. Tradução de Valéria G. de Souza. Belo Horizonte: Artesã, 2016.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems 11. ed. Genebra: OMS, 2019.
ZAIA, P. et al. Twice exceptionality and giftedness under the view of positive psychology. Psicologia, Saúde & Doença, v. 22, n. 1, p. 62–75, 2021. https://doi.org/10.15309/21psd220107.